O mundo pós-pandemia ainda é uma grande incógnita. As
mudanças serão tão grandes e numerosas que chega a ser difícil imaginar qual
planeta encontraremos quando toda essa crise ar. Porém, analisando o ado
a partir de outros eventos que transformaram toda a ordem social, é possível
traçar alguns panoramas e imaginar como viveremos depois do coronavírus.
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Na economia, será
necessário um novo resgate. Este é um dos setores mais incertos do
pós-pandemia, já que os estragos causados pelo desemprego podem ser de uma
magnitude sem precedentes na história recente. Muitos planos estão sendo anunciados,
mas a efetividade ainda é questionável. O mais provável é que seja notada uma
queda geral no padrão de vida de todos que não forem muito ricos.
A Covid-19 mudou nossas vidas. Não estou falando aqui
simplesmente da alteração da rotina nesses dias de isolamento, em que não
podemos mais fazer caminhadas no Minhocão ou ir aos nossos bares e restaurantes
preferidos. Sim, tudo isso mudou nosso cotidiano e muito. Mas o meu
convite para você é para pensarmos nas mudanças mais profundas, naquelas
transformações que devem moldar a realidade à nossa volta e, claro, as nossas
vidas depois que o novo coronavírus baixar a bola.
“O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não
existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que
tenta manter o status qual o de 2019 é alguém que ainda não aceitou
essa nova realidade”, disse nesta entrevista para a BBC
Brasil Átila, que é doutor em microbiologia pela Universidade de São
Paulo e pós-doutor pela Universidade Yale. “Mudanças que o mundo levaria
décadas para ar, que a gente levaria muito tempo para implementar
voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de
meses", diz ele.
As residências serão adaptadas com espaços
dedicados para escritórios domésticos, pois, trabalhar em casa será a
norma, não a exceção. Isso sugere que a viagem se tornará um último, não
primeiro, resort. A agenda ambiental ganhará impulso quando percebermos
que o vírus é um grito de socorro de um planeta que adicionou 6 bilhões de
pessoas em menos de 100 anos. E como o vírus forçará o cálculo de como tratamos
o envelhecimento e como consideramos a privacidade.
Escrevemos como se estivéssemos em 2025. Recordamos as
mudanças que ocorreram nos dias, meses e anos depois da grande crise
de 2020. Impulsionar-nos para a frente nos permite traçar um caminho a seguir e
fornecer indicadores principais do que está por vir. E sugere que existe um
futuro de trabalho.
BIG BANG ON-LINE
A COVID-19 digitalizou o mundo na velocidade da luz.
Setenta anos depois da revolução da tecnologia da informação, ficou
claro no início de 2020 que, embora pensássemos que a tecnologia era grande, a
TI havia realmente arranhado a superfície da vida. O vírus acabou com tudo
isso.
Antes da pandemia, havia muitas alternativas
digitais -- seja na saúde tradicional, educação, finanças, varejo;
mas nós não estávamos tentando, lamentando “eles são muito
caros” ou “sempre fizemos dessa maneira”. Mas quando a pandemia tomou
conta, a necessidade ditou: “Supere, vá em frente, acostume-se a isso”.
A COVID-19 BIG BANG vaporizou as crenças de que
determinados trabalhos nunca poderiam ser feitos on-line ou
virtualmente. A lição duradoura do bug? Tudo o que poderia se mover
on-line, se moveu on-line.
Estamos em 2025. Imagine-se 5 anos atrás. São 9
horas da manhã. Você está trabalhando em casa. Você não é um dos sortudos
com um escritório em casa, então está na sala de jantar. Sua cara-metade também
está trabalhando em casa, mas perdeu a aposta no pedra-papel-tesoura pela mesa,
então está no sofá com o laptop. Os documentos e notas do trabalho estão
espalhados por suas respectivas áreas de trabalho. Seus
filhos -- cuja escola está fechada até segunda
ordem -- estão fazendo todo o possível para distraí-los. (Se você
tem crianças pequenas em casa, a força pode estar com você.) Você está
ocupado/a tentando parar as brigas dos filhos e, ao mesmo
tempo, apagar incêndios no trabalho. Que alegria! Você e sua cara-metade
dividiram as coisas -- trabalho, culinária, crianças e tarefas
domésticas. Você olha para o relógio: 9h07. Vai ser um longo dia.
Há pouco tempo, trabalhar em casa era um privilégio para
poucos, mas quando a COVID-19 chegou, de repente se tornou uma necessidade
para todos. Como em qualquer coisa na vida, o #WFH serviu para alguns, e
para outros, longe disso. A mudança repentina pegou muitos de nós de surpresa.
Tentar trabalhar produtivamente se tornou mais do que apenas ter um laptop de
escritório e conectividade à internet. Representava mais do que conquistar
um lugar na cozinha, na sala ou no quarto. Tornou-se uma
luta pela sobrevivência -- pelo futuro do seu trabalho.
Depois da pandemia, novas casas construídas ou
reformadas contaram com espaços dedicados para escritórios domésticos:
roteadores no lugar certo, isolamento acústico, telas adequadas. As casas se
tornaram castelos, o local capacitado com redes e plataformas para conectar,
criar e realizar, para trabalhar de forma mais inteligente. Um lugar onde
podemos nos isolar (e nos concentrar) e ainda permanecer conectados com o mundo
inteiro. A chave para o sucesso do escritório em casa será a capacidade de
criar e cultivar conexões profundas e baseadas em confiança com colegas,
clientes, parceiros e qualquer pessoa no mundo conectado para realizar o
trabalho.
HUMANOS NA MÁQUINA
Antes dos bloqueios, a tecnologia foi amplamente
responsabilizada por elevar uma geração antissocial. Dispositivos =
distração. Sobrecarga de informações = atenção limitada. No meio da pandemia da
covid-19, aprendemos a amar nossas comunidades digitais, a encontrar felicidade
na comunicação on-line e finalmente a dar às plataformas de videoconferência o
respeito que elas mereciam.
Mas, de repente, a tecnologia se tornou a única coisa que
nos manteve conectados durante nosso isolamento social forçado. As pessoas mais
velhas que uma vez criticaram as interações virtuais estavam usando aplicativos
como, por exemplo, o Houseparty como se fossem pequenos roteiristas.
O vírus mudou de atitude aparentemente da noite para o dia e nos fez finalmente
apreciar a tecnologia de comunicação digital que estava ao alcance de nossos
dedos. Em vez de revirar os olhos a cada “todos podem colocar em
mudo, por favor”, ficamos agradecidos pela oportunidade de manter
contato -, uma oportunidade que não existiria se a covid-19
tivesse chegado uma década antes ou a qualquer momento na era pré-digital. Os
jovens ficaram agradecidos (e divertidos) pelos avós finalmente aprenderem a
utilizar o FaceTime para que pudessem conversar de uma maneira mais pessoal.
VIAGENS A NEGÓCIOS PERDERÃO SEU ENCANTO
A humanidade nunca voou tanto nos anos que
antecederam a 2020, mas o clima do planeta não aguentou. Os ajustes
anunciados pelo setor aéreo -- combustível de aviação sustentável e
aviões elétricos (você voaria em um?) -- como uma resposta às
mudanças climáticas nunca decolaram para uso em escala. Os 12% dos americanos
que fizeram mais de seis viagens por ano representaram dois terços das viagens
aéreas globais (e cada um deles emitiu, em média, três toneladas de carbono por
ano).
A verdade inconveniente era que jogar toneladas de carbono
no céu não era algo que poderia durar para sempre. O vírus transmitiu uma
mensagem cósmica de que nosso comportamento de viagem precisava mudar, e,
num piscar de olhos, as viagens de negócios aram de atividades de alto
status (“Você foi a Sydney para uma conferência? Oh, que maravilha!”) a um
constrangimento (“Você foi a Sydney para uma conferência? Como você pôde?”). O
hiato pós-vírus nos forçou a reexaminar nossos hábitos de vôo -- era
essencial voar pela metade do mundo para a reunião de dois dias? “Todos nós
consideramos o contato pessoal, mas as plataformas de comunicação como Slack,
Zoom ou Trello quebraram o controle corporativo que a experiência presencial já
teve.
LEMBRE-SE, ESTAMOS EM 2025
Se o surto e a propagação do vírus nos
ensinaram alguma coisa foi o quão
verdadeiramente e indissociavelmente interconectados e
interdependentes somos -- biologicamente, economicamente e
ambientalmente. Mesmo agora, todos esses anos depois, ainda não podemos medir o
tamanho das consequências socioeconômicas da pandemia. Os trilhões de dólares
são fáceis de contar, mas e os intangíveis? As oportunidades de carreira
prejudicadas de um jovem? Tratar angústia psicológica?
Talvez o mais importante historicamente falando tenha sido
como a desaceleração econômica prolongada de 2020-2022 interrompeu o relógio de
nossos negócios frenéticos, como de costume, e nos permitiu dar um o
para trás, respirar fundo e começar a recalibrar como vivemos em nosso planeta
azul. Muito azul, na verdade, na esteira da crise. Naquele momento de
pausa, ficou óbvio para todos, menos para os mais míopes, que o vírus era um
grito de socorro de um ecossistema que gemia sob o peso de expandir de 1,8 para
7,7 bilhões de pessoas em menos de 100 anos.
Vários futuristas internacionais dizem que o coronavírus
funciona como um acelerador de futuros. A pandemia antecipa mudanças que já
estavam em curso, como o trabalho remoto, a educação a distância, a busca por
sustentabilidade e a cobrança, por parte da sociedade, para que as empresas sejam mais responsáveis do ponto de vista
social.
Outras mudanças estavam mais embrionárias e talvez não
fossem tão perceptíveis ainda, mas agora ganham novo sentido diante da revisão
de valores provocada por uma crise sanitária sem precedentes para a nossa geração. Como
exemplos, podemos citar o fortalecimento de valores como solidariedade e empatia,
assim como o questionamento do modelo de sociedade baseado no consumismo e no
lucro a qualquer custo.
EFEITOS DO CORONAVÍRUS DEVEM DURAR QUASE DOIS ANOS
As transformações são inúmeras e am pela política, economia, modelos de negócios, relações sociais, cultura,
psicologia social e a relação com a cidade e o espaço público, entre outras
coisas.
O ponto de partida é ter consciência de que os efeitos da
pandemia devem durar quase dois anos, pois a Organização Mundial de Saúde calcula que sejam necessários
pelo menos 18 meses para haver uma vacina contra o novo. Isso significa que os
países devem alternar períodos de abertura e isolamento durante esse período.
Diante dessa perspectiva, como ficam as atividades de lazer,
cultura, gastronomia e entretenimento no centro e em toda a cidade durante esse
período? O que mudará depois? São questões ainda em aberto, mas há sinais que
nos permitem algumas reflexões.
Para entender essas e outras questões e identificar os
prováveis cenários, procurei saber que tendências os futuristas, pesquisadores
e bureaus de pesquisas nacionais e internacionais estão traçando para o mundo
pós-pandêmico. A partir dessas leituras e também de um olhar para as questões
que dizem respeito ao centro de São Paulo e à vida urbana em geral, fiz uma
lista com algumas dessas tendências, que você pode ler a seguir.